Até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso. Nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro.
Renda-se, como eu me rendi. Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei. Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento.
Minha força está na solidão. Não tenho medo nem de chuvas tempestivas nem de grandes ventanias soltas, pois eu também sou o escuro da noite.
Que ninguém se engane, só se consegue a simplicidade através de muito trabalho.
A palavra é o meu domínio sobre o mundo.
Saudade é um pouco como fome. Só passa quando se come a presença. Mas às vezes a saudade é tão profunda que a presença é pouco: quer-se absorver a outra pessoa toda. Essa vontade de um ser o outro para uma unificação inteira é um dos sentimentos mais urgentes que se tem na vida.
Sou como você me vê.
Posso ser leve como uma brisa ou forte como uma ventania,
Depende de quando e como você me vê passar.
Liberdade é pouco. O que eu desejo ainda não tem nome.
(Perto do Coração Selvagem)
É curioso como não sei dizer quem sou. Quer dizer, sei-o bem, mas não posso dizer. Sobretudo tenho medo de dizer porque no momento em que tento falar não só não exprimo o que sinto como o que sinto se transforma lentamente no que eu digo.
Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é passível de fazer sentido. Eu não: quero uma verdade inventada.
Suponho que me entender não é uma questão de inteligência e sim de sentir, de entrar em contato...
Ou toca, ou não toca.
Quando se ama não é preciso entender o que se passa lá fora, pois tudo passa a acontecer dentro de nós.
E se me achar esquisita,
respeite também.
até eu fui obrigada a me respeitar.
Porque eu fazia do amor um cálculo matemático errado: pensava que, somando as compreensões, eu amava. Não sabia que, somando as incompreensões é que se ama verdadeiramente. Porque eu, só por ter tido carinho, pensei que amar é fácil.
Ela acreditava em anjo e, porque acreditava, eles existiam.
(A Hora da Estrela)
Olhe, tenho uma alma muito prolixa e uso poucas palavras.
Sou irritável e firo facilmente.
Também sou muito calmo e perdôo logo.
Não esqueço nunca.
Mas há poucas coisas de que eu me lembre.
Com todo perdão da palavra, eu sou um mistério para mim.
...Que minha solidão me sirva de companhia.
que eu tenha a coragem de me enfrentar.
que eu saiba ficar com o nada
e mesmo assim me sentir
como se estivesse plena de tudo.
E nem entendo aquilo que entendo: pois estou infinitamente maior que eu mesma, e não me alcanço.
Tenho várias caras. Uma é quase bonita, outra é quase feia. Sou um o quê? Um quase tudo.
O que verdadeiramente somos é aquilo que o impossível cria em nós.
Enquanto eu tiver perguntas e não houver respostas... continuarei a escrever.
"Sou uma filha da natureza:
quero pegar, sentir, tocar, ser.
E tudo isso já faz parte de um todo,
de um mistério.
Sou uma só... Sou um ser.
E deixo que você seja. Isso lhe assusta?
Creio que sim. Mas vale a pena.
Mesmo que doa. Dói só no começo."
Amar os outros é a única salvação individual que conheço: ninguém estará perdido se der amor e às vezes receber amor em troca.
CLARICE LISPECTOR
Olá Claudia!
ResponderExcluirProfundo! Quando amamos o compreendido, amamos parte de nós mesmos, quando amamos o incompreensível, nos abrimos na permissão de que tudo é vida! Aceitamos as diferenças e permitimos a luz passear dentro de nós, é maior que o próprio corpo, é o espírito infinito imenso, que flui na forma humana, na procura de expressão que mergulha na compaixão do ser e se deixa experimentar viver!
Um abraço,
"Todo o Conhecimento é Luz que Inspira a Alma" -*Vera Luz*-
Buenas Cacau,
ResponderExcluirexcelente texto, sem falar Clarice Linspector é muito boa.
Bju
Paulo